O Sono
I
A minha vida inteira tem sido, sobretudo, um grande sono.
Não importando se estou a velar ou a dormir: é sempre o sono.
Dos sonhos que tive, os mais fantásticos, tive-os acordado,
Os mais reais, dormindo.
Seguro uma pedra em minha mão e ela parece feita de pó,
Desfaz-se...
Sonho constantemente com uma bela mulher que amo,
E, no sonho, ela existe tanto quanto eu mesmo.
Seria capaz de sentir com sua alma.
Em sonho, não existo e sou Deus.
Aqui, sou um verme pleno.
II
Eis a vida nua!
Eis a questão não colocada!
O limpar o corpo de um cadáver!
Se me erguesse de meu sono
Seria para morrer.
III
Um poema como um soco no estômago.
Um poema como um cachorro doente
Numa esquina qualquer.
Um poema incapaz, apolítico.
Um poema que arranque olhos, apocalíptico.
Um poema concreto que desmanche no ar.
Um poema vivido.