Indistinto monólogo em berros
Cansei-me desta etérea sofrega mácula
Que atordoa-me
Que prende-me no ombro esquerdo
E suga-me a sanidade.
Deixa-me embalsamada
Em um licor púrpuro éter
De loucura sã.
Essa embriaguez perene
Que me doutrina a alma
E faz gritar o corpo em contrações
E contorções metafísicas.
Que explode-me a cabeça e
Todas as entranhas
E todas as viagens estranhas
E longas e mornas e líquidas.
Que cria e descria o mundo
E faz dele um lugar bom
Sendo igualmente o mais quente
E gelado e profundo e profano dos infernos.
Cansei-me desta profusão de
Extremos.
Cansei-me dessa angústia de enfermos
Graves e sisudos e doces
E devorados de vermes gordos
E saudáveis.
Basta
Basta de ideias verosímeis
De ideias verazes e vorazes e
Sonhadoras
Basta-me de ideias ideais.
Basta-me de crer que possa eu aqui
Agora ou talvez amanhã
Provar do doce
Néctar da plenitude
E tangir o reto caráter
Translúcido e livre de obscuridades
E agradável a todos que dele
Se deleitam.
Não posso mais crer que tudo o que É
É justo e é digno de ser aceito.
Não
Não é.
Não existe nesse mundo a paz profunda
A paz completa
A paz empírica
A paz pacífica.
Não
Não existe
Não nesse mundo.
(Lê-se em gritos enfurecidos e indignados e melancólicos)