Indistinto monólogo em berros

Cansei-me desta etérea sofrega mácula

Que atordoa-me

Que prende-me no ombro esquerdo

E suga-me a sanidade.

Deixa-me embalsamada

Em um licor púrpuro éter 

De loucura sã.

Essa embriaguez perene

Que me doutrina a alma

E faz gritar o corpo em contrações 

E contorções metafísicas.

Que explode-me a cabeça e

Todas as entranhas

E todas as viagens estranhas

E longas e mornas e líquidas. 

Que cria e descria o mundo

E faz dele um lugar bom

Sendo igualmente o mais quente

E gelado e profundo e profano dos infernos.

Cansei-me desta profusão de

Extremos.

Cansei-me dessa angústia de enfermos

Graves e sisudos e doces

E devorados de vermes gordos 

E saudáveis. 

Basta

Basta de ideias verosímeis

De ideias verazes e vorazes e 

Sonhadoras

Basta-me de ideias ideais.

Basta-me de crer que possa eu aqui

Agora ou talvez amanhã 

Provar do doce

Néctar da plenitude

E tangir o reto caráter 

Translúcido e livre de obscuridades 

E agradável a todos que dele

Se deleitam.

Não posso mais crer que tudo o que É

É justo e é digno de ser aceito.

Não 

Não é. 

Não existe nesse mundo a paz profunda

A paz completa 

A paz empírica 

A paz pacífica. 

Não 

Não existe

Não nesse mundo.

(Lê-se em gritos enfurecidos e indignados e melancólicos)

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 09/01/2017
Código do texto: T5876304
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