Sopro
Carregava cruzes pela casa quase vazia
Pois tua sombra ainda a habitava
Ele agora um homem vazio de cantos e zelos
Não precisava mais se barbear, tosar o cabelo
Perfumar-se. As visitas não viriam mais
Contentou-se ao silêncio geográfico da casa
Ele sempre fora mais distante que os demais
E de mais a mais nunca carregou conversas fiadas
Mas fiava o tempo com olhar fino e duro e bom
Costumava espiar o tempo com as mãos ossudas
Cheias de veias ralas como rios secos e tristes
Carregava cruzes pela casa imensa e vazia
Casa que fora cheia de vida inteira, alegre
Ele gostava das pessoas e suas dores diversas
Ria dos nozes nas articulações, nos tendões. Tinha
joanetes.
Mas teu sorriso era de uma imensa felicidade
Ele sempre fora mais livre que todos os demais
Quando novo inventou caminhos e destinos
Foi onde costumou chamar fim de mundo
Voltava sempre com novas histórias e risos e
Saudades.
Carregava cruzes pela casa hoje vazia
Teu nome virou sopro na boca da noite
Milton Oliveira
4janeiro/2017