O carteiro

Aquele andarilho, dourado e calado

Que sabe onde todos moram

Que não se alegra ao ver ninguém

Traz a má ou a boa nova, no sol do vai e vem

Quando criança, me era nada,

Só um homem que vinha, passava e algo deixava

Meus pais, nem riam nem choravam, ele mal importava

Quando cresci, passei a usar seus serviços

Fiz amigos, promoções, comprei discos

Ele passou a ser aguardado, querido e cuidado

Era minha juventude, quase tudo era boa nova

Palavras que não me deixavam sentir sozinho

Naquela cidade em que minha alma foi jogada

Enquanto queria o mundo lá fora, foi o carteiro

O mensageiro de outrora, me trouxe palavras aos montes

Sem me dizer uma palavra, sabia ele o que carregava?

Ele já me carregou palavras de ódio, de amor, de muita dor

Me levou certa vez uma notícia de morte, chegou sorrindo

Era minha juventude, e tudo seguia sua plenitude,

Seu compromisso era entregar, e o meu de ler e aguardar

E a vida se encarrega da máquina rodar

Hoje já não me vejo jovem, o carteiro é agorento

Me pega sempre, no pior momento, e quando não aguento

Ele me vem com uma conta, uma cobrança, um boleto

As vezes pior, uma ruim lembrança de dias de criança

Ao trazer presentes, de um inquieto ausente em si e conectado

Nas compras online, no desejo do mensageiro aguardado

Que traz sua encomenda, para suprimir segredos, anseios

Impossíveis até que qualquer um compreenda

O carteiro e seu sentido, diz pra onde meu mundo foi

Hoje não há mais nada lá fora que ele me traga

Que possa me trazer a alegria como nas inocentes cartas

Recebidas, nas manhãs bucólicas e corporativas do dia-dia