Abriram as portas do manicômio, e não nos deixaram voltar desde então
Não são os grandes momentos e decisões que enlouquecem um homem.
Mas sim as pequenas coisas.
Pessoas.
Vermes.
Escapamentos barulhentos de motos.
Animais desobedientes.
Panfletagens no semáforo.
E carros cujo aparelho de som custa mais do que a vida do motorista.
São as decepções corriqueiras do cotidiano.
E escrever é só uma forma egoísta e artística de gritar um pouco.
Gritar contra aqueles que poluem o seu pequeno paraíso.
Egoísta porque você escreve a réplica.
Um diálogo de um homem só contra si mesmo.
E artística porque podem erroneamente te chamar de gênio ou habilidoso.
Mas só é ruim se você acreditar nisso.
Os loucos sabem mais que nós.
Eles conseguem ver a sua fôrma.
Eles conhecem a sua própria fôrma.
Eles já estiveram vazios um dia.
Um dia seu espírito se esvaiu.
E eles viram o limite dos seus mundos.
Eles compreenderam a sua fôrma.
Eles não fazem planos.
Eles vêem.
Sentem.
Vivem a sua natureza.
Riem quando não há graça.
E se calam enquanto a multidão grita.
Aqui, fora do manicômio, todos são comuns.
Há uma guerra dentro de cada um deles.
Cada gota de suor de mais um dia de trabalho é o sangue de inocentes jorrando após as explosões.
E tudo dentro do cidadão comum é médio.
A capacidade de beber.
Amar.
Transar.
E até de ser bonito.
Mas principalmente a arte.
Eles não a tem.
Tudo é brilhante ou genial.
Tudo é muito caro ou sem sentido.
Sua melhor arte e proeza é serem 10% do que os ícones e experts de cada sentimento, ocupação e função no mundo são.
A mediocridade os acompanha.
E eles odeiam o mundo e seus habitantes por isso.
Mas quem poderia culpá-los totalmente?
Mentiram sobre como o mundo funciona desde a sua concepção.
O sistema educacional os chamou de vencedores.
Suas mulheres e as suas vidas vomitaram em cima dessa palavra.
As devolveram embrulhada.
Em forma de um cone com uma fita vermelha em volta.
Chamaram isso de diploma.
Você está formado.
As pessoas não são boas com as outras e consigo mesmo.
Você chegou no fim de mais um dia.
No declínio da sua jornada de trabalho e vida.
E não recebeu um maldito centavo válido por isso.
Talvez se não fosse pela interrupção da morte.
Isso seria mais triste ainda.
A realização de que nada foi o suficiente.
E o incrível desperdício de uma vida dita pelos outros.