CENA NATALINA

Era a mesma cena,

como se repetia há anos:

a mesma família,

as velhas perguntas,

a antiga farsa sentada

à mesa de Natal...

“Quanta saudade”,

disse-he o parente distante,

a quem não via desde o Natal anterior.

“Nossa, como você cresceu!”

apertou-lhe as bochechas a tia.

"E as namoradinhas?"

perguntou o tio ao sobrinho.

No que ele,

diferentemente de anos anteriores

cansado da velha hipocrisia familiar,

falou sobre gênero e desigualdade.

Falou sobre respeito,

sobre o amor divino

e o sentido do Natal.

Falou verdades,

e, dentre elas,

a verdade que ninguém queria

ouvir: há pouco sentimento entre a família,

muita miséria entre os

irmãos.

E a festa acabou.