Desejo incontido II

A todos os que são, também,

desejos incontidos...

Começo no absurdo:

numerar a série dos desejos

incontidos de mim...

Começo absurda como o azul

que me acorda

em amanhecimento oceânico...

Começo no absurdo despertar

surdo e alucinado

de joelhos pro silêncio...

Começo de novo desejo

incontido de palavra

uma só que pudesse me salvar...

Começo absurda como o mar

infinita eternidade em torno

retorno de ondas não sabidas...

Começo no absurdo de amar

até o que não vi, o que ainda já

não despertou do meu retrato...

Começo no impreciso absurdo

de respirar no útero do instante

e partir em nascimentos...

Começo na placenta do absurdo

me alimentando desse excesso

de pouco dormir e muito desejar...

Começo, sem fim,

no absurdo de começar sem fim

o desejo incontido de pó e mar...