TEU PESCOÇO de VÍTIMA
Encho de carências o navio e domino aventuras
tirando da cartola cidades e manhãs,
e se louco desfio o horizonte
e desequilibro os limites
as estrelas mergulham no oceano
que muito mais do que o céu
na garrafa é o meu sonho
se alastrando além da bandeira
e do verão azul.
Não há razão que permaneça
quando o fogo chega, mas o desejo
espreita a estrada que enche as curvas
de salteadores e mesmo dormindo
sòzinho ouço a voz do anjo que desce
pela noite espalhando brasas
na sede de crianças frente ao barco de papel
que revelamos tomados pelo arrependimento.
Não há fuga, estou acorrentado ao destino
e apedrejado percebo solidariedade
apenas no leproso, no mendigo e no escravo,
e sei que o meu sangue alimenta o sol
como o escândalo é a tatuagem do vendido,
numa espera de sapo vejo que o silêncio
é a fumaça do descrente e arranco sangue
do teu pescoço de vítima atirando cusparadas
ao santo, porque o tempo, meu amor,
é de apontar o sol ao urubu como única saída,
pois se o deserto é uma canção modulada
na matemática do desprezo,
os dentes cerrados secretam o nome da cólera,
no momento das cretinices afloradas
o caos aguarda o dono dos olhos chispar o motor
e o mundo espera um novo salmo trazer o sentido