silenciosas redundâncias

a estas horas ladram os cães

a estas horas conversam os loucos com os duendes nas lixeiras

a estas horas o silêncio se esgueira

entra pela porta do quarto entreaberta

e se aninha sobre as coisas

como um veludo

infiltra-se pela fresta mínima da primeira gaveta de uma cômoda escura

retorna trazendo um retalho de passado

rescende o quarto à naftalina

abandona-o sobre a cama

depois, tal uma névoa

dissipa-se

silencioso foge o silêncio para as silentes paisagens do universo