Molduras
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Molduras
Ser rei.
Serei
o ser eivado
da loucura
do que sei.
Sereia.
Ser, da areia,
a teia emoldurada
do rei.
Se errei,
Ei!
Terra à vista!
Nijair Araújo Pinto
Iguatu, 29 de dezembro de 2016.
21h49min
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Eu sou de um tempo antigo...
(Marina Alves)
Eu sou de um tempo antigo em que roubar uma tangerina no quintal da vizinha era motivo para ter que devolvê-la, em companhia do pai, depois de levar bons petelecos – que era para aprender a não botar mão no alheio. Eu vivo tempos modernos em que milhões, bilhões são roubados, descaradamente, sem o menor pudor, e nem por isso serão, necessariamente, devolvidos aos seus donos.
Eu sou de um tempo antigo em que somente depois dos quinze anos – sob as vistas da família – a menina estava autorizada a namorar no sofá da sala, em dias alternados, em horas marcadas pelos pais. Eu vivo tempos modernos em que as meninas nem completam doze, já saem para baladas e por lá se perdem, entre ficadas e ficantes.
Eu sou de um tempo antigo em que pai e mãe eram chamados de senhor e senhora, rezava-se o terço em família e os filhos não se retiravam sem pedir a bênção para ir dormir. Eu vivo tempos modernos em que pedir a bênção a um ente mais velho é motivo de vergonha e extremo constrangimento.
Eu sou de um tempo antigo em que os filhos não saíam desacompanhados, até serem maiores, e aos pais deviam respeito e obediência. Eu vivo tempos modernos em que os filhos evitam ser vistos em companhia dos pais, sob pena de pagarem mico e virar piada na escola.
Eu sou de um tempo antigo em que a Educação vinha de casa, os valores eram regiamente incorporados, desde cedo, e as boas maneiras eram ensinadas pelos mais velhos. Eu vivo tempos modernos em que as crianças chegam à escola sem a formação mais elementar, atribuição natural da família, e das instituições de ensino se esperam verdadeiros milagres.
Eu sou de um tempo antigo em que responder em voz alta ou grosseiramente a um ente mais velho equivalia a severa reprimenda, acompanhada, muitas vezes, de bons tabefes que era para não esquecer nunca mais. Eu vivo tempos modernos em que filhos gritam com pais, à revelia; pintam e bordam, sem economizar no vocabulário chulo, e ainda exigem silêncio da outra parte.
Eu sou de um tempo antigo em que os mais novos não entravam na sala quando os mais velhos estivessem em conversa. Em assunto de gente grande criança não se metia. Eu vivo tempos modernos em que crianças invadem a conversa dos adultos e se não são ouvidos de imediato até chutes nas canelas costumam acontecer na exigência por atenção.
Eu sou de um tempo antigo em que o que se podia ter era o que os pais podiam dar. Se não podiam, não davam e ponto final. Eu vivo tempos modernos em que filhos não só pedem como também exigem o que desejam, não deixam por menos, nem aceitam imitações.
Eu sou de um tempo antigo em que as casas eram abertas para receber visitas de parentes e vizinhos e a boa conversa aproximava as pessoas. Eu vivo tempos modernos em que filhos, pais, parentes e vizinhos se falam cada vez menos e a tecnologia distancia a todos cada vez mais.
Eu sou de um tempo antigo em que um olhar direto resolvia no mais absoluto silêncio toda e qualquer questão. Nem uma palavra era gasta para se transmitir uma mensagem, principalmente se era um “Não”, ou “Espere que já lhe mostro”. Eu vivo tempos modernos em que aos filhos não bastam palavras, frases, argumentos ou discursos inteiros. Eles, simplesmente, só entendem o “Sim” que lhes interessa.
Eu sou de um tempo antigo que ainda mora no parece que foi ontem, mas quando comparo esse ontem ao hoje, que peça antiga me sinto ... Ah, estes tempos modernos!