Ademane da dor
Ademane da dor
É pelo esquecimento que nos salvamos,
E antes disso é pelo risco – como dizia Lispector,
Logo, o que faz valer a pena, na vida,
É não somente a ida, a subida,
É o risco, o arriscar, é o assumir a dor –
E com o tempo o aprender esquecê-la.
É pelo esquecimento que nos salvamos,
E antes disso pelo risco, o que faz a vida ser única,
Sendo assim autêntica, original, não alienada,
não copiada, não uma vida vivida pelos outros na gente
Viver não é fazer o que se quer, mas é o tentar.
Se não arriscamos somos aqueles que não viveram.
Se não esquecemos somos aqueles que viveram,
mas que não continuaram vivos.
O que nos eterniza se não a própria tentativa?
É em lágrimas que nos atualizamos.
É em memórios que crescemos.
É em experiências que somos.
Mas, é no apagão da dor que tememos voltar a acendê-la,
E por consequência evoluímos.
Dor é coisa absurda.
O doído é um doido.
Porque a loucura é absurda.
E de louco todos têm um pouco quando choram.
Mas, a dor faz mímica de longe quando se há bonança
A dor avisa que espera uma oportunidade para voltar a se manifestar
E vivemos com medo dessa ademane,
Afinal ser humano é ter medo, é ser frágil.
Qual então é o segredo?
Continuar tentando.
Deus nos salvou.
É regra da vida esquecermos.
É oportunidade da vida nos oferecer mais outras tentativas.
Para quê desperdiçar tudo isso?
Melhor termos medo da dor conquistando
Ou isolados em nossas ilhas de mesmice?
Seja também um salmista moderno, se atreva a escrever. ~Leandro Santtos