TÊNUES ALGEMAS
Ante tua imprevista beleza,
meu furor de macho agreste,
se acalma e empalidece.
Não mais agressor, sou a presa
com que brincas, distraída,
agradando quando queres,
ou desdenhando ligeiro,
quando, em tédio, te aborreces.
Eu, que almejo ser teu dono,
me abandono, então, não reclamo,
aceito, escravo, o comando
da tua voz doce e rouca,
do laço que são os teus braços,
e das algemas que unem
os corpos no mesmo espaço.
Pensas tu: sou a raínha,
eu firo, eu mato, eu maltrato.
Deixa estar a tua crença,
pra mim não faz diferença.
Se me beijas, me abraças,
te tenho cativa - és minha,
já não mais uma raínha,
apenas mulher que, domada,
se entrega submissa,
pra no amor ser libertada.
(publ. 2009)