SONHOS
Me chamaram de sonhador.
E, por assim me chamarem,
Fui sendo um sonhador.
Chamando, chamando
Fui sonhando, sonhando...
E, sonhando, andei por terras
Longínquas, bonitas
Fantásticas, floridas.
Havia pedras,
Alguns – poucos – espinhos,
Mas, sonhando,
Sonhei que uma borracha os apagava,
Devagar,
Porque nas pedras e espinhos
Há também beleza
E é preciso, pois, admirá-los.
Chamando, chamando
Fui sonhando, sonhando...
E não vi passarem por mim
A tristeza, a fealdade,
O rancor, a arrogância,
A inveja e a cobiça,
Sentimentos torpes
- tão humanos -
não estavam em meu sonho.
Sonhando, sonhando...
Não vi a vida?
Vi a vida, sim,
Mas a vida que eu sonhava,
Afinal, no sonho também há vida.
Sonhando, sonhando...
Eu vivi.
E vivi diferente.
Vivi um sonho.
Sonhando, sonhando...
Sonhei que sonhava
Que a vida sonhada
Era melhor que não sonhar.