Tateando-te em Braille

Por não ter restado o lenitivo de tua voz,
a meus ouvidos a sussurrar odes e poesias;
por não ter restado nem mesmo o encanto
que transformou em pranto a cada um dos dias
em que fomos mais que eu e tu, que fomos nós.

Por não ter restado em nossas peles o toque
que nos transformava de anjos em demônios
e por nem mesmo mais sentir, no entanto,
o suave e inebriante olor dos tantos feromônios
que espargias e que me atingiam em choque.

Por não ter restado sequer resquícios de visão,
que me permitissem ver que findara o baile
e que ora me encontrava só, ainda bailando,
permaneci tateando por teu corpo, em Braille,
buscando te encontrar, como cego, meio ao salão.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 19/12/2016
Reeditado em 13/01/2020
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