Poema Desesperado

É preciso viver

Apesar do ferrão na carne

Da vaidade nossa de cada dia

Do riso e da melancolia

Da dor e da alegria

A vida nos convida a cada hora

Semear o trigo e debulhar o grão

Revirar a terra ressequida

Não amaldiçoar a semente que secou

Estamos sem rumo

O vasto anedotário me faz

Rir de mim mesmo

E do salto alto, maior que as pernas

O batom maior que a boca

E deste perfume que inflama

Minha mucosa nasal

Pelas barbas do poeta

Nenhum verso com alguma elegância

Uma linha, duas linhas, no máximo

De poesia vil e desgraçada

Só a púbis da ninfeta

Preanuncia um momento de tesão

Rogai por nós, senhora virgem

Com o seu olhar de santidade

É urgente rever o olhar impuro

Dos nossos olhos transgressores

A mulher próxima, a mulher ida

Cheia de pecado e mansidão

farta de lagrimas e perdão

Olho a plebe simpática

Com seu calcanhar de Aquiles

A plebe me angustia, mas,

Plebe é plebe

Se abastece de carne chamuscada

No boteco da esquina

Volto o rosto e encontro

O seu olhar oblíquo

Dentro do meu olhar esférico

Nenhuma ternura a declamar por nós

Dois corpos vazios, equilibrando em pernas tortas

Algum profeta aí,

Para anunciar o fim do mundo?

A ressurreição da carne

A remissão dos pecados

A vida eterna?

Amem!