Da Traficável Vida
Sinta essa criança, assim, fragilmente bela
usando uma trança ou de joelho ralado;
a mão quer, não alcança; alguém segura por ela
mas, impuro, se cansa e solta o alcançado.
Sinta a mão, agora : uma frágil lua de vela
que a noite devora com o seu breu desdentado
deglutindo a hora em tão macabra moela
(quando sua mãe chora, sorri a do transplantado?).
Sinta a dor que sente a vida por essa morte
porque, humanamente, o mal anestesiante
corta, indiferente (a maldade é cortante!)...
Sinta o inocente que há antes desse corte;
e, depois, o doente (que tem uma mãe mais forte)
sobreviver somente por causa do traficante?
Torre Três
17-12-2016