LAMENTO SERTANEJO
Vida de sertanejo é dura
Tudo falta pra nós.
Não há riqueza nem fartura
Só seca cruel e feroz.
As crianças choram na rede,
Os bichos morrem de sede
Na poeira da estrada.
Todo o pasto já secou,
A água também acabou...
Eh boi! Eh boiada!
Fui trabalhar na cidade
Deixando tudo pra trás:
Uma mulher sem vaidade,
Treze filhos sem paz,
Uma casinha modesta,
Um burro ferido na testa
Pra ajudar na jornada,
Uma velha espingarda,
Um cão sarnento de guarda...
Eh boi! Eh boiada!
Na cidade tudo é diferente:
Tem trabalho e fartura,
O povo é gordo, decente,
Vive no luxo e formosura.
Mas para um burro louco
O ganho é muito pouco
Não sobra quase nada.
Melhor tivesse no ninho
Comendo só passarinho...
Eh boi! Eh boiada!
Sei que não tem jeito
Não posso logo voltar.
A saudade aperta no peito
Trazendo lembranças de lá.
A noite é sempre enorme
Parece que o povo não dorme
Igual formigueiro na estrada.
Vivo tristonho e sozinho
Precisando só de carinho...
Eh boi! Eh boiada!
Imagino agora lá no sertão
Meus filhos dormindo famintos,
Sonhando um pedaço de pão
Ao lado dos pais distintos;
Minha mulher no cantinho
Olhando no longo caminho,
Sonhando também ser amada
Eu chegando com ternura,
Trazendo no bolso fartura...
Eh boi! Eh boiada!