CONSCIÊNCIA DE MENDIGO
Tal como o vê,
Rebento da miséria é.
Andrajoso e faminto,
Deambulando pelas ruas,
Quase sem fé.
Vivendo vai somente pelas forças do instinto.
Vencido pela desgraça,
De casa em casa,
Pedaço de pão reclama.
Pouco importa como se chama.
Compaixão..., nome que a todos clama.
E arrisquei por vezes apelidar:
"Errante", "Sem destino",
"Filho do desatino",
Pois o pão a dias não logra arrecadar.
Tal como aquele pedinte,
A vida também me passa e,
Lá na minha casa,
Onde a miséria não grassa,
Lembro sempre daquele errante,
Vivendo agora a inglória do meu ato,
Quando dia daqueles ousei lhe negar um simples prato.
E pobre se fez a consciência que nesta hora me cala.
Emparedando-me na dor da vergonha e do trauma,
Indago por onde anda aquela nobre e empedernida alma,
Que não mais bate à minha porta.
Migalhas do pão que já não lhe importa.
Vida posta fora,
Vida que a um irmão nada mais implora.