varios poeminhas...
01. ...Se deixar florir
De dentro do meu olhar
nasceu um amor primaveril.
Admirável é que foi em pleno abril.
Este amor me veio inteiro; útil e pronto a poema:
sem esquema, dilema e algema. Coisa de cinema.
E esse amor deu de ficar no meu rosto a fazer-me sorrir.
Eu me deixei ir. Assim: como quem sabe se deixar florir!
02. Metamorfosear
Respiro o azul
da lucidez do seu olhar...
E toda aridez vira mar!
03. Alento
Tem verso que
tem o poder de fazer
cócegas na alma da gente!
04. Canção do mar…
“Só quem está em estado de palavra pode
enxergar as coisas sem feitio”. Manoel de Barros
Naquela noite eu estava afeito
um mar morno e arrojado.
Se buscasse com cautela
encontraria em mim
restos de amor
dos peixes!
Se eu me educasse bem
tornaria um cais de
areias brancas
com gaivotas
em revoadas.
E gente descalça
e meio desnuda!
Nas minhas areias quentes
pessoas desfadigariam.
E a brisa matutina
acariciaria a face
meiga de quem
se dispusesse
a trocar
passos
à margem de mim!
E a canção dos mares me gorjearia!
05. Cova rasa
Passei a vida
trabalhando de anjo:
cuidando de gente,
adiando a minha vez.
Agora perdi o fôlego,
e, além desse corpo,
não há além; não
há alento, somente
cova rasa e cimento!
06. Alvorecer
O dia deu de transitar
de azul na minha aldeia...
E belo de se afeiçoar!
07. Possibilidades…
E se aquela palavra
triste de repente descobrir
que alegrou uma poesia!
E se aquela palavra
feia de repente se der conta
que pode ornar um poema!
E se madeira nascida à
beira do rio de repente
se descobrir um Stradivarius!
08. Estações
Esperar-te-ei um dia,
um outono, outro ano...
Sei da tua importância!
09. A tua boca...
A tua boca
é imprescindível ao ato e
aprendeu a colorir vazios,
a me conceder agitações!
De tão real se faz ilusão,
surge dela outro mundo,
tão notório e tão nosso.
E, nos fazem primitivos,
deixam-nos abstraídos!
A tua boca
vai ditando uma poesia
de carne, e, cada verbo
aprendeu a me vigorar.
Pertenço como nunca
àquela ocasião única!
Sou a voz da tua boca,
sou a fome da tua vez,
alento do teu sussurro!
A tua boca
aprendeu a desfazer
os mistérios do dia;
sabe fazer infinitos
os segundos; agora
vem me mandando
pelo vento um novo
alvorecer; agora já
sei do gosto do sol!
A tua boca
conhece a ciência das
coisas, sabe morder o
tédio das manhãs de
primavera; sabe deixar
um gosto de rio pelas
minhas margens; sabe
fazer outro lugar de
um lugar qualquer...
A tua boca
é que sabe da minha fome!
10. Olhares e poesias...
Com uma poesia não se
entende o todo pela parte.
Mas com um olhar, sim!
Nota-se toda a intenção do ser;
até a alma dos olhos que olham...
E tem olhar que fala...
Fala mais que a fala.
O desígnio de uma poesia é mostrar
coisas imperceptíveis à primeira vista;
revelar a olhos vivos, mas distraídos...
Aprendi a me apaixonar
todo dia pela poesia de cada dia.
Mas não consigo conviver bem
com olhos que arremetem sonhos
a esmo buscando amparo de outros olhos...
É que me entrego fácil a estes olhares...!
11. Sorriso de olhos...
E os seus olhos
brilhavam mais que estrelas;
cintilavam vida intensa.
De certo era a sua vez
de brilhar mais que a lua...
Aquele sorriso de olhos iluminou a minha vida!
12. Reinventar-me...
Quando não tive mais o seu amor
o meu sangue esfriou nas veias;
como se estivesse a viver sem respirar.
- Reinventei outro mundo pra mim:
outra paz, outro coração, outro olhar...
Atualmente eu sou este ancorado em mim mesmo.
Agora sei que posso, quando quiser, reinventar-me!
13. Fazer sol...
Eu tinha que achar um sorriso
tão legítimo quanto uma
alegria de criança.
Que este sorriso saiba, queira e possa
sempre espantar os meus escuros…
Assim: como quem sabe fazer sol na vida da gente!
14. Homem-poesia...
Eu, carne, osso e contato,
amaria ter nascido poesia,
tão perfeita e sem avaria:
feito uma alma num retrato,
igual bicho, mato e regato!
E, eu, poesia, leria o leitor;
saberia sua fome, sua dor,
seria seu mar, seu deserto,
o vazio, o certo e o incerto;
Também poderia ser amor!