NÁUFRAGO

Há dias, em que as palavras são tudo o que tenho.

São um respaldo colorido, nesses invitáveis dias cinzentos,

de nervos tensos, aguardando os dizeres das núvens,

que passam em mistérios de acasos vários.

São um grito rasgado,

ainda vagamente sonante,

ainda borbulhando sobrevivências rebeldes

nesse naufrágio dos dias anônimos, monótonos,

nas profundezas plúmbeas e misteriosas

desses mares de horas eternizadas e iguais,

onde o passado se afoga lentamente,

e um eterno presente sempre sobra,

errante, misturado com um futuro insubstancial,

plácidamente morrendo na praia do agora,

vazio como qualquer futuro,

e futuro, como qualquer vazio

que se preze...

Há dias em que são as palavras, que me escrevem,

e me registram em caracteres nodosos,

sem ambivalências,

desalmadas,

cruas,

nuas,

sós.

Ar...

29 /07/ 2007