O AMOR - (Uma das versões de poema homônimo do grande poeta russo Maiakóvisk, que se suicidou pelas impossibilidades absolutas de viver. Poeta, no entanto urge que se resista sempre... sempre... sempre... a todos os interditos e a todas as interdições da vida.)
Talvez
Quem sabe
Um dia
Por uma alameda
Do zoológico
Ela também chegará.
Ela que também
Amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
Na foto sobre a mesa.
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão.
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias.
Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos
Amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis.
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro.
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso.
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe
Minha vida
Para que não mais existam
Amores servis.
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
De sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco.
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra