MEU PAPEL


 




o tempo algoz
já dobrou a noite
algo dobra minha mente
mas não há nem caneta nem papel
para escrever o que se passa
na dobra na minha alma


mas tenho duas mãos
e cada uma tem uma palma
finjo que com uma escrevo na outra
um croqui do que não sei que penso
para em um dia no momento certo
olhar para dentro da mão esquerda
para saber que o pensamento
não passou arrastado pelo vento
o que anda apressado e empurrado
pela imensa força do esquecimento...
...minha mão tem linhas
onde está marcado um m

não estarei mais perdido
se eu consequir encontrar meu papel
sem precisar ir até o céu
para encontrá-lo bem à mão
bem ao alcance de quem
não sem dificuldade não sai do chão
para obliterar o que é amargo em amar

risco com a mão direita
aproveitanto o m da mão esquerda
ao acrescentar um mero el
bem no canto do papel
algo amável amarelo doce
mais doce que qualquer doce
sendo abelha que fisga a isca
de todo amarelo do gira-sol
para talvez, digo só talvez, dizer a palavra...





                                                                                            ...
"mel"
                                                               que contém a melhor parte
                                                                          de tudo que é meu