O PÁSSARO PERFEITO
Devoluto
No esfuziante jardim
Detenho-me absorto
Exulto ante o sem fim.
O indício de eternidade
É um casal de rolinhas
Esses pássaros perfeitos
Cujo barro das asinhas
De maleável rigidez
Diz muito, e muito bem,
Do ofício de quem as fez.
E fico a olhar
Sereno
Essas manadas de nuvens
Migrando para Oeste
Como migramos, nós,
Camaradas,
No Sentido Inconteste:
Mesmo a jovem senhora alheia
Que à varanda ajeita plantas
- Em sumaríssimos trajes -
E ilusões me semeia
De me casar novamente;
Mesmo a mocinha rija,
Que aos rapazes se empertiga
E, se brincar, dia desses,
Engravida.
Ao pensar em tanta vida
Escuso é evitar da morte
Uma lembrança que seja
- Gêmeas que são da mesma sorte
De vida.
Some a esposa da varanda
Passa a moça de short
- Vai embora -
Fica a certeza da morte.
Voltam as mesmas rolinhas
No imprevisível bailado
Inocente, buliçoso
Pincelando ao acaso
Outra manhã do meu tempo.
Mas...e o morto?
Meu futuro outro?
De que participa, frui?
Empreende viagem cósmica
Por senda espiritual?
Ou enfim decodifica
Seu arquétipo vital
A altaneira Palmeira Imperial?
Será, meu Deus, que se inscreve
Em divina iluminura?
Ou apenas o ilumina
Um estado de razão pura?