O PÁSSARO PERFEITO

Devoluto

No esfuziante jardim

Detenho-me absorto

Exulto ante o sem fim.

O indício de eternidade

É um casal de rolinhas

Esses pássaros perfeitos

Cujo barro das asinhas

De maleável rigidez

Diz muito, e muito bem,

Do ofício de quem as fez.

E fico a olhar

Sereno

Essas manadas de nuvens

Migrando para Oeste

Como migramos, nós,

Camaradas,

No Sentido Inconteste:

Mesmo a jovem senhora alheia

Que à varanda ajeita plantas

- Em sumaríssimos trajes -

E ilusões me semeia

De me casar novamente;

Mesmo a mocinha rija,

Que aos rapazes se empertiga

E, se brincar, dia desses,

Engravida.

Ao pensar em tanta vida

Escuso é evitar da morte

Uma lembrança que seja

- Gêmeas que são da mesma sorte

De vida.

Some a esposa da varanda

Passa a moça de short

- Vai embora -

Fica a certeza da morte.

Voltam as mesmas rolinhas

No imprevisível bailado

Inocente, buliçoso

Pincelando ao acaso

Outra manhã do meu tempo.

Mas...e o morto?

Meu futuro outro?

De que participa, frui?

Empreende viagem cósmica

Por senda espiritual?

Ou enfim decodifica

Seu arquétipo vital

A altaneira Palmeira Imperial?

Será, meu Deus, que se inscreve

Em divina iluminura?

Ou apenas o ilumina

Um estado de razão pura?

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 10/10/2005
Reeditado em 02/06/2006
Código do texto: T58481