Num fim de qualquer tarde
Filha,
Desde que soube de ti/
Eu te esperei/
A principio remediei um erro/
Embora tenha outros cometidos/
Por ti agradeci e feliz fiquei/
Mas certo mesmo, é que pouco contigo convivi/
Mas nunca neguei o meu amor por ti/
Tão certo, que nuncas fostes uma flor qualquer/
Uma pérola desconhecida/
Uma princesa abandonada/
Talvez em teus olhos/
Eu não tenha sido o teu herói/
Muitas vezes, tenha me transformado em um bandido/
No entanto, por muitas razões/
Por horas perdidas/
Tenha sido alguém esquecido/
Na maioria das vezes, o esperado/
E não comparecido/
Hoje, como um dos últimos dias/
Como um guerreiro vencido/
Assento-me muitas vezes ao teu lado/
E tento olhar os teus olhos/
Procuro não ser reconhecido/
Mas saber a dor que te atormenta/
De como vai o teu dia amanhecido/
O silêncio que te angustia/
O medo que te assusta/
O amanhã que te visita/
Talvez até, tentando ser quem nunca fui/
Quando nas inúmeras noites de tormentas/
De enfermidades, de chuvas fortes, falta de luz/
As sombras dos contos infantis/
Por vezes, vencendo as suas forças/
E clamando por proteção e o meu calor/
Só ouvias o que tua mãe dizia/
Embora certas coisas o tempo não remedie/
Procuro conhecer os teus gostos e as cores/
Que não aprendi contigo/
Conhecer os assentimentos mal digeridos/
Tentando ser a necessidade, que não precises/
A invenção, que não necessites/
A cultura, ultrapassada, que não utilizes/
O brinquedo, que não brinques/
A roupa, que não uses/
O professor, que nunca te ensinou/
A falta, que não sentes/
A música, que não aprendestes comigo/
A saudade, que teimas em não sentir/
Qualquer coisa, que não te faz rir/
Mas que faça tu lembrares de mim/
Como alguém que se importou contigo/
Que mesmo na contra mão da distância/
Procura te amar, sem ser comedido/
Talvez por isso/
Ainda esteja na vida agradecendo por ti/
E querendo sempre ser/
Mais do que um desconhecido/