MEU SERTÃO

SOU CABOCLO LUTADOR,

E TRAGO NO PEITO A DOR

DE TER DEIXADO PARA TRÁS

MEU TÃO SONHADO SERTÃO!!!

SAÍ DE LÁ, AINDA MENINO.

E POR FORÇA DO DESTINO CHEGUEI ATÉ AQUI.

POR ONDE PASSEI, FUI BEM RECEBIDO.

E COMO BOM SAMARITANO

AGRADEÇO AO POVO BAIANO

POR TEREM ME ACOLHIDO!

SE QUEREM SABER DE ONDE VENHO,

NÃO ME ENVERGONHO EM LHES DIZER.

VENHO DE UMA TERRA CARENTE,

DE UM POVO QUE VIVE A SOFRER...

EU VENHO DO CEARÁ.

E MINHA VIDA TEM MUITA ESTÓRIA,

DAS TRISTES ÀS MAIS ALEGRES,

DAS OCULTAS ÀS MAIS NOTÓRIAS.

MAIS POREM, NÃO FALAREI SOBRE ELAS.

TENHO-AS APENAS COMO LIÇÃO DE VIDA

ARQUIVADA EM MINHA MEMÓRIA.

QUERO FALAR SOMENTE,

DO POVO DA MINHA TERRA

QUE LUTA, CHORA E REZA

NOS DIAS QUE NÃO CONVÉM.

FALTA O PÃO, FALTA A MORADA.

O QUE NÃO FALTA É O DESESPERO.

SEM EMPREGO E SEM DINHEIRO.

O NORDESTINO CHORA A PERDA...

LEMBRA-SE, QUE JÁ TEVE ROÇA BOA,

GADO E CAVALO DE MONTARIA!

POIS NÃO FALTAVA EM SUA MESA

O PÃO NOSSO DE CADA DIA.

MAS UM DIA VEIO A SECA

TEMOR DOS NORDESTINOS,

E FEZ TUDO SE ACABAR...!

O SERTÃO ESTURRICOU.

E ATÉ O SABIÁ, AVE TÍPICA DA REGIÃO,

BATEU ASAS E VOOU... FOI-SE EMBORA O SABIÁ!

E O SERTÃO NÃO MAIS OUVIU O SEU CANTAR.

SÓ RESTOU O CANTO AGORENTO DO VELHO ACAUÃ.

QUE SEMPRE À TARDE, AO POR DO SOL

VINHA SEM SER CONVIDADO.

HABITAVA O VELHO TRONCO DO JUAZEIRO

E SOLTAVA O SEU GRASNAR TEMEROSO E TRISTONHO...! LEVANDO EMBORA CONSIGO

TODA A ESPERAÇA E SONHO DAQUELE POVO INOCENTE. QUE SO QUER UM POUCO DE CHUVA

PRA VER A TERRA FLORIR, SEMEAR SUA SEMENTE...

E COLHER O FRUTO DO SUSTENTO.

QUANDO O DESTINO É CRUEL E TRAIÇOEIRO,

SÓ RESTA LAMENTO E DESESPERO.

E O SERTANEJO EM MEIO A ISTO,

LEVANTA AS MÃOS PARA O CÉU E REZA...

REZA PEDINDO CHUVA E BONANAÇA

PRA SUA TERRA QUERIDA,

TERRA QUE O CAMPONÊS NUNCA ESQUECE.

MESMO QUANDO PADECE, À MERCÊ DA ESCASSEZ!

Antonio Cristiano Pereira