Limites


Venha só até aqui.
Este é o último degrau,
E qualquer coisa além
Estará além 
Da minha permissão.

O mar é proibido,
O ar é proibido;
Não existem barcos nessas minhas ilhas,
Onde as asas dos pássaros são cortadas,
Periodicamente,
E a ração que comem
É distribuída
Rigorosamente
Na certa medida.

Não sonhe com nada,
Não existe um futuro
Além do futuro
Que eu determinei:
Meu desejo é uma ordem,
E a minha vontade
É lei.

O céu que eu ordeno
É aquele que está sob essa abóbada,
Não abra suas asas,
Não tente voar mais alto
Do que eu mandei,
Sinta-se feliz em ser personagem
Dessa história retrógrada
Que eu criei.

Cala essa boca
Cheia de vontades,
Cheia de verdades,
Cheia de perguntas sem respostas,
Cheia de desejos
De saber o que está
Acima dessa bosta
Que emplastra o chão
Que eu te presenteei.

Não erga a tua mão,
Porque eu te prendo,
E vendo os teus olhos
E te encosto, sem pena,
No muro gelado
Que eu reservei
Àqueles que ousam
Burlar minha lei!

Aqui é o limite:
Três metros por três,
Na boca, a palavra
Da minha doutrina,
Só tens o direito
À privacidade
Ao usar a latrina.

Vida coletiva,
Morte coletiva,
Cova coletiva:
Aceite feliz
Tudo o que eu te dei.

Olhe o horizonte impensável,
E vá dormir sempre com a pior das fomes:
A de não ser gente,
A de não ter voz,
A de não ser livre,
A de não ser homem.









 


 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 01/12/2016
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