CARRO PREMIADO
Somos pássaros feridos perdidos num voo mutilado Temos asas vazadas asas murchas
asas na tipoia o sol é a banheira o sol é o carro premiado para nossa cobiça repleta de pirataria
Ah! vamos oferecer a nudez dos corpos como escambo numa oração feita de tatuagens
Estamos presos num cativeiro, os sonhos caem de rosto na lama
estamos isolados da Fé
pelas chamas perfumadas das pedras carnavalescas que iluminam o caminho do abandono
o menestrel desaba rasgando os molambos nos baixos do viaduto
o horizonte coberto pelo sangue do silêncio
- que nós bebemos aclamando o Poder
2
Quanto mais andava o homem sentia-se nos astros vistos de olhos fechados
dentro dele não mais havia o escuro mas um jardim iluminado
cujas estátuas esculpidas nas primeiras pedras do sol
reviravam os olhos metálicos contando a história da paixão
Assim fazia orações aos deuses vitais:
a Amizade o Amor a Compreensão
3
De braços abertos no cume do maior dos penhascos ele bebe banhando-se
nos símbolos trafegantes pelo cosmos e que na terra
traduzimos confusamente na forma de Consumo e Política
Onde os Querubins que disseram viriam salvar-nos?
Aguardam a queda da mentira, aonde os sonhos feridos
animam a feiticeira a celebrar aliança com o canibal
montados no cavalo sanguinolento
Quando cortaremos a cabeça da Política erguida por nossas mãos remendadas de pregos iniciando a Justiça? em qual gruta dorme o Caçador com a pele do Urso?
como eu durmo sorvendo-te o cheiro do sexo escancarado para o delírio
fazer de mim mais que um deus, um homem enraizando-te nas entranhas