Dança Com A Minha Morte

Nasci de retalhos do amor.

Foram em mim, costurados

Na carne humana e frágil

Dos lares equivocados.

Não gosto de ocupar lugares

Que forcem-me no meu horário

De rir ou chorar ou abraçar

Pois e se visto eu o cansaço

Seria eu, então, um armário

Desses que guardam máscara.

Desses que cheiram à mofo.

Gosto eu de tudo o que escancara.

Não gosto de lugares e títulos

Estragam o meu eu, já tão aflito.

Gosto de ser parceira... companheira.

Parceria nunca pede cativa cadeira.

Não gosto de falar p'ra gente

Gosto de aprender com Gente.

Estou aqui e acolá... não quero sempre estar.

Bom mesmo é deixar a saudade

Perfumar por si mesma, o ar.

Renasci de retalhos da dor

Lacerados num copo de vinho

Lacerados num pedaço de pão.

A fome da carne é um vão!

Farta é a cruz do perdão

Onde ele mostrou-me o Amor:

Face que brilha na noite

Mão que apascenta o açoite

Todos os dias a recomeçar.

- Mato-me todos os dias!

- Rio-me na cara da morte!

… E convido-a para dançar!

- Canto livre em cada golpe!

Morte voluntária de mim

Liberto-me de mim, enfim.

E que eu diminua tanto e tanto

E que eu escandalize o meu EU que olha

E grita diminuto a sua própria morte

- Descrente EU que acredita na sorte!

Miro o morto EU de soslaio...

Liberto-me de mim, enfim.

… Nasci do imutável Amor por mim.

Karla Mello - "Dança Com A Minha Morte"

http://karlamelomelo.blogspot.pt

#TragoVersos

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 01/12/2016
Código do texto: T5840240
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