INTROSPECÇÃO

De repente, fecho os olhos

E vejo as pessoas que amei,

As pessoas que fiz sofer,

Os momentos de agonia e emoção...

Como ave de rapina

A brisa toca minha tez

Fazendo-me sentir a sanha do passado:

A ingratidão do melhor amigo,

A traíção da mulher amada...

Abro os olhos compulsivamente

E como mágica ou faz de conta

Entes queridos que se foram

Me abraçam sorridentes e felizes.

Aguço os ouvidos

E ouço, amiúde, a gritaria da infância,

Mamãe me chamando para almoçar,

Papai gritando sobre o time campeão,

A melodia do violão dos amigos na praça,

O sussurro apaixonado da primeira namorada...

Sem querer dou alguns passos para frente

E a cada passo percebo que uma década se passou:

A juventude transviada,

O primeiro emprego,

O casamento repentino,

O primeiro filho,

A primeira desilusão...

Abro os olhos repentinamente

E percebo que não sou mais o mesmo,

Meu corpo sofreu as agruras do tempo:

Meus cabelos branquearam-se,

Minha tez perdeu a elasticidade,

Minhas forças me abandonaram...

Percebo que na longa estrada da vida

Vivi emoções e decepções,

Alegrias e tristezas,

Desejos e prazeres,

Sonhos e realizações,

Conquistas e fracassos...

E se tivesse outra oportunidade

Eu faria tudo outra vez.