Açude


Abre brechas
por entre o grude que eu,
sapateira
de vão de escada,
nas horas vagas
fui inventando
ora cuspindo
ora construindo
com mãos descomplicadas,
com ráfias
e farripas de cabelo caído.
Ao mais ínfimo bafejo
do vento Norte
ameaça desmoronar
uns milímetros.
E nós bem  sabemos que bastam
uns milímetros
para fazer sucumbir
as fortalezas impenetráveis
pois estas dependem sempre
da absoluta imobilidade.
Aquela pequena ave
que permanece
adejando sobre o açude
tem medo
das horas, dos dias
em que não vai poder manter
esse incessante movimento
pois se ele cede
a água açucarada solta-se
pelo mundo
arrasando tudo
o que se opuser
ao seu sonho.
 
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 28/11/2016
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