Da Bailarina Menina
Ela era uma bailarina
De uma valsa que apenas ela
Ousava, louca, bailar.
E trazia nos seus cabelos
Uma tiara da cor do arco-iris
E a saia toda bordada
Com estrelas cintilantes de ponta
E ainda a sapatilha
Que calçava apenas um pé.
O outro par ela perdeu por aí...
Enquanto tentava, erguida
Nela mesma equilibrar.
Ela era apenas menina
Que amarrou um barbante gigante:
dos seus pensamentos tontos,
até a Lua que se esconde.
E prendeu no barbante uma tábua
E fez um balanço brincante...
E balançou até vomitar.
… Há quem a tenha visto a balançar
E ainda a bailar na alva Lua minguante
Iguais aos seus sonhos de instantes.
Ela era mais uma passante
Deste mundo caos ofegante
De “redes” e fotos estanques
De sorrisos em fotos congelados
De momentos, por vezes, errantes
Que fazem barulho em silêncio constante
De mortos-vivos que andam distantes
Pelas ruas à procura de um abraço
Que cabe, de certo, no laço
Do seu braço que cruza no espaço...
No ar... A formar um abraço.
Ela era uma bailarina
Sem graça a buscar uma rima.
A dançar sem platéia ou aplauso
No silêncio da noite tão sua...
A balançar na minguante Lua
Sempre a espreitar a rua da noite
Que bem em meio ao açoite
Haja um sentimento par que estanque
O Amor sobre o mundo que dói - sua sina
Bailarina sonhadora menina...
… Ela é qualquer coisa esquisita...
Entre o acreditar nos sonhos e o acordar deles aflita.
Ela prefere prendê-los todos num bonito laço de fita.
Karla Mello