Niilismo
Porque estou farto desse gosto amargo
na boca
que não é doce nem amargo.
Essa coisa morna que ninguém sabe
se é vida ou morte.
Porque estou farto de cair no abismo do abismo
do abismo.
Nesse mesmo vão de almas
que não tem para onde ir
e não podem ficar onde estão.
Porque estou farto de todas coisas pútridas
que deturpam meu ser.
Todas essas coisas que exalam
o odor decomposto
de todos sonhos perdidos,
das esperanças despedaçadas,
Porque estou farto de ver tantos rostos
e não reconhecer nenhum
Tantos olhos,
e nenhum traz paz.
Tantas bocas que riem e riem
parece-me que da minha
solidão desértica.
O escárnio sempre esteve estampado,
às vezes subentendido mas latente,
onde busquei, desesperadamente,
comedidamente,
um pouco de
amor,
compreensão,
aceitação.
Tudo isso caminhou para o nada.
Ele engole tudo à minha volta.
Tudo o que um dia acreditei ser por dentro, por fora,
todas as ilusões foram manchadas pela lama.
Tudo o que acreditei não era Nada.
O nada prossegue engolindo
o próprio Caos.
Tudo está estagnado como a poeira
nos movéis,
como minha própria alma
ausente e sedenta de anjos ou demônios,
a mercê de uma salvação que possa sustentá-la
nesse contínuo,
eterno,
etéreo
Nada.