Da Janela Que Engoliu Um Bosque
Aprendi a conversar com o bosque.
Nos cumprimentamos, cedo, da minha
Janela da alma que sempre está
A orar e a cantar e a dançar!
E a falar sempre sozinha,
E ainda a cozinhar
Pensamentos e comidinhas
Orvalhadas de sonhar.
Aprendi a conversar com os passarinhos.
Nos cumprimentamos, cedo, da minha
Janela do céu de minha boca
Estrelada e que gosta de sorrir.
E ainda de soprar mil beijinhos
Bem para lá do além mar
Repletos de Amor e carinho.
Passarinhos sempre sabem, ao certo,
Quando eu estou a falar de ninho.
Sinto-me sozinha de gente.
Perto - gente que engole gente,
Gente que engole sonho,
Gente que aborta gente
Do coração...
Sem ter noção...
Do que aquece, em Verdade, um coração.
E eu ando, assim, a residir embaixo
Da sola do seu sapato – hiato
Fendas, eu e tu e entre as palavras nossas
O EGO de gente e sua dor é o seu
Mundo cego, mundo mudo, mundo torpe...
No seu solitário e triste vão recato.
Silencio e piso devagar por entre as fendas - hiato.
Aprendi a conversar com o bosque
Nos cumprimentamos, cedo, da minha
Janela ensolarada e fresquinha.
Ele sempre me diz de lá, alegre e verdinho:
- "Caminha firme... Caminha!"
Sempre respondo a sorrir... Levezinho.
Da minha janela que engoliu um bosque.
Na minha janela aonde cabe um vasto
Mundo... Da minha janela.
Karla Mello