como pode depois de tanto
como pode
depois de tanto
tantas pessoas
presas ao mesmo garrote?
como pode, sem medo
essa observação inerte
de quem se sufoca lentamente
apagando de repente
os aprendizados do passado
com uma certa cegueira
para o que nos espera no futuro?
como pode
tanto silêncio
na mente de quem incendeia?
como pode
tantos grilhões
tantas cordas
e alçapões?
olhos revirados de tanta informação,
mãos trêmulas de tantas opções,
passos ébrios de quem tenta se encontrar,
balbucios de quem tenta se expressar...
como pode
tanto cabresto
em quem sempre vagou sem medo?
como pode
tanta certeza pra quem amava a dúvida,
tanta limpeza pra quem amava a lama,
tanto caos e tão pouca sapiência...
como pode
tanta calmaria
nos olhos de quem nos cerceia?