QUEDA DESPENCADA
Convencidos pelo engano
nas catacumbas
onde a soma das fugas no pôr do sol
mede a passagem do ano,
vemos revelados além dos anjos
dançadores de rumba
os fantasmas dos governos abortados,
e no convés dos navios piratas
redesenhamos os mapas dos infernos
anunciados
para que a lógica infame
e celebrada do sistema
estale a guerra
da miséria insone
Vivemos ao longo das estradas
a queda despencada
dos que não têm destino
fiéis de uma igreja cujos sinos
espalham genomas
divididos entre o catavento
e a bússula
e desprezando o guarda-chuva
abrimos na seca o porto dos delírios
chamando a busca no aumento
da saudade que o homem leva no peito
O jeito é rasgar a lei
sei que o peito de um rei
enverga estrelas
não sou o que enxerga
defeitos
procuro escritas no rastro
dos caramujos
e assisto o poente
instalar o único luxo
permitido no desfrutar:
o encanto do homem feito,
pela mulher