DINAMENE

já fui poeta caipira

chorando uma tragédia da roça

em versos de português inculto e rimado

de um sombrasil na televisão

já fui Bandeira

triste, auto-irônico, inteligente

em versos livres

contemplando uma vida inteira

que poderia ter sido e que não foi

já fui Vinícius

em uma elegia

também triste

e num soneto

Já fui Cecília

sim, Cecília

Belo poema de mãos quebradas

Já fui Drummond

embora

não tenha suportado o mundo

com a força do meu verso

...

Mas hoje esse ego de um poeta antigo

Que perde amigos, mas salva o esquema

Na ânsia de ver-se reconhecido

Transforma em um verso qualquer dilema

Sem pouco importar quem tenha sofrido

Quer apenas manter viva aquela cena

De inspiração pura mas não perene

Mesmo que morra a bela Dinamene

...

Tomara que logo

tudo se disperse

numa simples e direta Paulada,

de Leminski

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