Não há um poema para nós, meu amor.
As palavras são dos olhos,
da língua que escreve
directamente na pele
com tinta invisível,
decifrada. Decreta
que este planeta, o corpo,
é a nossa casa.
Os poemas são
da fonte da carência
ali do quarto ao lado,
nascem tristes
transfigurados, melancólicos,
meu amor,
procuram amparo, algum consolo
combalido, uma nervura.
Aqui as palavras saltitam
pelas pernas como lebres
que correm a matar a sede,
entrelaçam-se nos dedos
pulam das mãos para as mãos
dançam à saída dos lábios
e à entrada
e não ficam, meu amor.
As palavras vão e vêm,
e vão.
As palavras, meu amor,
num poema demoram
como lágrimas.
Não me peças um poema,
meu amor.
Para nós há a vida.
 
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 21/11/2016
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