Canto dos Corvos
Canos e águas,
Luto e dor.
América sangrada:
Desalento, um túmulo.
Que desejam?
Nossas almas?
América sangrada:
Latina e frágil.
Repleta de revoltas
Contidas e débeis.
Acasos te destroçam,
América sagrada,
Mãe dilacerada.
Que fizemos de ti?
Nós, os mortos,
Não fomos também
Os assassinos?
América sangrada,
Acaso não queres morrer?
Mas se toda a tua vida
Foi feita de mortes.
Se no mar do teu sangue
Há sempre Pilatos
Lavando as mãos.
Estranhos se banham,
Deliciam-se, te mancham.
América deflorada
Num estupro universal.
Que mais te podem fazer?
Pobre puta, tão amada:
Geni do mundo.
Não morrerás!
Pois ainda há fogo
E há memória.
Há memória
E há fogo.
E as chagas abertas
Hão de fazer recordar
A necessidade da luta,
O amargo prazer de lutar.