OUTRO TEMPO
OUTRO TEMPO
Os pés tocavam o chão
Na mão uma bolinha
Ou um pião
Na cabeça um nada
Apenas infância
E agora lembrança
Das manhãs para a escola
Da fila indiana
Rezando pra acabar a semana
Da pelada da tarde
Da topada que abria o dedo
Que ainda hoje arde
Do andar sem medo
A não ser da turma
Do outro quarteirão
Que não era mole não
Do filhote que não era pet
Das meninas de meia soquete
Da raiva do banho
Ainda por cima frio
Do pão daquele tamanho
Onde queijo e presunto
Eram estranhos
Da laranja e banana
E da banana e laranja
Da chuva e da farra
Que algazarra
Do barquinho de jornal
Do nadar especial
Nas poças que não pareciam sujas
Das broncas da mãe cujas
Palmadas doíam na bunda
Do castigo até segunda
Do viver sem compromisso
A não ser a missa
O silêncio postiço
O pavor do diabo
Que era pintado
E o sete que pintava
Mesmo sentado
Na saída pipoca ou quebra queixo
E essa aparente falta de eixo
Era a meninice
Tudo tolice
Que se foi
Mas ficou marcada
A ferro e fogo
E hoje é desafogo
Visto tanta mudança
Querendo ser novamente
Apenas criança