OUTRO TEMPO

OUTRO TEMPO

Os pés tocavam o chão

Na mão uma bolinha

Ou um pião

Na cabeça um nada

Apenas infância

E agora lembrança

Das manhãs para a escola

Da fila indiana

Rezando pra acabar a semana

Da pelada da tarde

Da topada que abria o dedo

Que ainda hoje arde

Do andar sem medo

A não ser da turma

Do outro quarteirão

Que não era mole não

Do filhote que não era pet

Das meninas de meia soquete

Da raiva do banho

Ainda por cima frio

Do pão daquele tamanho

Onde queijo e presunto

Eram estranhos

Da laranja e banana

E da banana e laranja

Da chuva e da farra

Que algazarra

Do barquinho de jornal

Do nadar especial

Nas poças que não pareciam sujas

Das broncas da mãe cujas

Palmadas doíam na bunda

Do castigo até segunda

Do viver sem compromisso

A não ser a missa

O silêncio postiço

O pavor do diabo

Que era pintado

E o sete que pintava

Mesmo sentado

Na saída pipoca ou quebra queixo

E essa aparente falta de eixo

Era a meninice

Tudo tolice

Que se foi

Mas ficou marcada

A ferro e fogo

E hoje é desafogo

Visto tanta mudança

Querendo ser novamente

Apenas criança

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 15/11/2016
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