PAISAGENS URBANAS

Um monumento, em pedra
Um desafio, em mármore
Uma ponte, um cartão
Um paredão, de solidão.

Aviões invadem os céus
O espaço e os sentidos
Acrobáticos desenham curvas
E avançam, cortando nuvens.

Uma lembrança de outono
Chuva e folhas na varanda
Mesa e cadeiras nas calçadas
E o povaréu na estação.

Inspire, respire o ar
A luz, o sol, o sabor
O cheiro dos ipês
Verdes, amarelos e roxos.

Deslize seus dedos nos fones
Viaje navegue nos micros
Se ligue, conecte-se no espaço
Nos satélites, nas redes internets.

Na paisagem urbana
O gozo exposto
Coxas, umbigos e seios
Em eróticos cinemas.

No topo dos arranha-céus, cartazes
Intermitentes luzes piscam em néon
Letreiros incutem e instalam flashes
Imagens nos olhos e neurônios.

Excessos de apelos, chamados
Insucessos de gente exauridos
Sem chances, sem portas, sem ação
A procura constante de realização.

Na parede concreto, navalha em riste
Carros blindados, vidros fechados
Pueril quimera, pífios ganhos
Globalização, aflição e caos.

O retirante na cidade grande
A modelo na vitrine exposta
O estudante com o canudo enfeitando
A parede da casa esfacelada.

E os planos? E a enciclopédia?
Na cabeça do sábio professor
Sem emprego, esquecido, sem amor?
Seus livros empoeirados na estante?

Tevês piscam o plim plim da hora
Imagens, festas, ira, explosão
Perenes, como dizia o ator
Tudo passa feito avião.

Velhinhas jogam seu bingo
Velhinhos, seu jogo de botão
Bebês enjaulados brincam no portão
Amassados nos ônibus, estudantes vão.

Na grande metrópole, a busca
O emprego, a entrevista, a fama
O namoro, o enlace alcançar
Eterno desejo de tudo se concretizar!


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                                                                               imagem: Internet