Travessia para o inserto
Feito pedra ao seu pescoço
Cordas amarradas em nó
Sem dó
A esperança se desfaz em um segundo
Posto em porões imundos
Correntes trincam sem parar
Ao andar
A fome te acompanha mar adentro
O medo é seu maior sentimento
O desconhecido te espera
Pior que a viagem castigante
É o passar da vida pelejante
Noites escuras e intermináveis
O dia nunca mostra sua existência
Que penitencia!
O inserto e uma constante
Num instante.
E o inferno uma certeza
Sem surpresa.
A escolha não está ao nosso alcance
E um fio de vida é o que nos resta
Com pressa!
Era um amontoado de pessoas
Com línguas, costumes e religiões diferentes
A turbidez do ambiente embaçava seus olhares
E a ambição do “branco”
Ia diluindo seus sonhos, sua família, sua religião e sua fé
Restava ao negro a solidão no meio de tantos
Sem espanto!
Que o novo pudesse ser melhor
E o que lhe reserva esse mundo novo?
Um socorro?
Não! Um martírio de uma vida sem regresso
Que perverso!
De nunca mais poder encontrar o seu povo.
Luis da Silva