CUNHAPORÃ - UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE 05
CUNHAPORÃ - UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE 05
Para quem está chegando agora.
CUNHAPORÃ – UMA HISTÓRIA DE AMOR é um poema-romance épico, composto de 271 estrofes e 1495 versos, dedicado a Gonçalves dias. Por sua extensão, ele será publicado em 9 capítulos semanais.
Para que o entendimento do enredo não se perca, procure ler a partir da PARTE 01.
Se Mestre Gonçalves Dias, de onde estiver, puder considerar este trabalho como retribuição a tudo de belo que nos ofertou, fico feliz, porque o simples fato de falar seu idioma e poder ler sua magnífica obra nos originais, já me torna um felizardo.
JB Xavier
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CUNHAPORÃ - Parte V
LÁGRIMAS DE AMOR
Tempos após esse grave incidente,
Em bela manhã, tórrida, quente,
O oyakã visitou o infeliz condenado.
“Salve, charrua, saudável e forte!
Enfim já estás preparado p’rá morte.
Teu fim amanhã já está decretado.
A selva inteira verá que estrangeiros,
Velozes nos pampas, em potros ligeiros,
Cá dentro, na mata, são fracos e lentos.
Teu povo um dia ouvirá a história
Do Grande Tupi e de sua vitória
Levada ao longe, nas asas do vento.
Que armas quereis para te defender?
Sob qual delas todas tu queres morrer?”
- Bradou Ygarussú , num acesso de ira.
“Sem armas, sem nada!” - bradou o charrua.
“Lutemos à morte só com a mão nua!”
Pasmou a aldeia com o que ele pedira.
E o som doentio de atroz gargalhada
Lançou toda a tribo em louca risada,
Imitando o cacique, o Grande Oyakã .
Afastou-se o gigante em passos ligeiros.
Ao longe voltou-se e falou aos gerreiros:
“Será na clareira, à tarde. Amanhã.”
* * *
“Tupã vos proteja
E o braço te guie,”
Disse Cunhaporã .
“Eu vim para isso !
Yara alertou que podia ocorrer.
Que sou sem meu sonho?
Talvez assim seja,
E nesta peleja
Eu deva morrer!”
“Silêncio Nhuamã !
Não manche a estirpe
Do povo charrua!
Que faço se morres?
Se a vida inteira
Eu sempre fui tua! “
“Ah! meu amor, sublime e terno.
Por que me transportas assim
Ao inferno?
Não tenha piedade
De mim, condenado,
Que paga por tanto ter te amado...
Não, meu amor, pobre criança,
Não preciso de esperança
Para enfrentar a Morte.
Nada há de tão terrível.
Ygarussú e bem forte,
Mas aprendi há muito tempo
Que não existe o invencível.
Morrer?
Talvez aconteça.
Talvez eu desapareça
Nestas ermas cercanias.
Talvez, então, noutras eras
De novo nos encontremos,
E meu coração, que te encerra
Talvez permita que de novo nos amemos...
Mas talvez também eu vença!
Somos guerreiros apenas.
Ele crê, e em sua crença
Deixa as demais tão pequenas,
Que talvez resida aí
Toda a sua insegurança.
Já venci mais de uma luta
Em que o erro do inimigo
Foi excesso de confiança.
Portanto não digas nada
Que não sejam as palavras
De teu próprio coração.
Nada digas, se não forem
As próprias palavras tuas.
E assim viverás sempre
No coração dos charruas.”
“Tolo que és !
Não permita
Que outro assassínio atroz
Entre nós
Se repita!
De mortes estamos fartos!
Queremos a paz verdadeira,
Por teto o céu estrelado,
Por lar a floresta inteira!
Não permita haver mais sangue
Nem a força do terror.
Lute e vença, Nhuamã .
Vença a luta de amanhã,
Vença, em nome do amor...!”
* * *
Próximo Capítulo:A LUTA