Acontece
vejo nos seus olhos o pranto
uma dor que me cega,
uma faca que me corta os ossos
como uma serra de fogo.
não encontro palavras amenas
ou gestos que lhe acalmem.
ah, como gostaria de ser uma águia
ou quem sabe um colibri
que pudesse roubar o néctar
da flor mais que perfeita
para adoçar o seu infinito sofrimento
ou até mesmo o deus Tupã
pra fazer uma magia na floresta
e ali se cantarem todos os cantos
em uma só voz.
novos dias haverão de brotar do seu ser
qual ipês no sopé da serra.
hoje não canto nem rio, desafino,
sofro como quem perdeu o brilho
ou a própria alma.
talvez amanhã quando o sabiá nos acordar
seremos outras pessoas
e o nosso riso será maior do que o seu desencanto
e o nosso abraço
um laço sem pontas,
um aperto sem dor,
um beijo sem fim