MESTRE-SELVAGEM

Não adianta manifestação pacifista Não

a Cápsula do Crepúsculo Final dissolve no ventre dilacerado do Tempo

céu e terra rolam desmoronando cores

montando a serpente do vento anjos-monstros armados

levando o estandarte do Nada, nada nos oprime além do Nada

nada liberta mais que o Nada

nada mais belo que o Belo Nada

o tempo é feroz

o planeta zarpa rumo ao centro-nervoso dos desastres

prevejo não um fim mas um círculo vicioso de fins

campos de gelo e carvão! uma dor de fogo e química queima a mente

e um homem foge vendo-se transformado em reflexo

você saberia quem é

s'eu tirasse a máscara que esconde a ausência de rosto

Mil cavalos de força galopam em meu peito - manada de corcéis sensoriais

- sob ventos - asas da Serpente-Mãe do Crime - que trazem a notícia da Terra

Certa mulher de napalm trajando mortalha de plumas metálicas

pisa corpos mutilados da nação jogada na selva de areia e árvores queimadas

O chão ondeia ao ritmo dos passos dos arcanjos de marijuana

em bandos que esfaqueiam médiuns e pais-de-santo

Selvagens suicidando a santidade elevam preces acima da compreensão

dos fazedores de guerra (os que profissionalizaram o sexo das eras)

o sol, hipnótico sobre a miséria, organiza lições trucidantes

Ele era índio ou palestino

e bailarino passava de uma raça a outra como quem abre portas

num corredor de injustiças

Não possuia lógica na lembrança

apenas o instinto da tragédia

foi Hamlet e Mao Tse Tung

foi o Pica-Pau quando chamado a governar

Judeu

anarquia das raças

serpente-raio

coqueiro-anjo

coito

igreja égua

galáxia-orgasmo

Império do Ânus

bom, os Quatro-Elementos estão decaptados na Crise da Matéria

sol-guilhotina (crânios apodrecem no lixão do Paraíso-Megalópole)

Já não tem graça o Apocalipse