PASSARINHO MIRRADO

Passarinho mirrado

Nasceu com o canto calado.

Seus pulmões fracos e murchos

Não mandavam ar suficiente pela goela.

Arrulhos, trinados, pipio, soluço, balbucio.

Nada disso, o passarinho mirrado conseguia emitir.

Chegou ao mundo, mudo, o coitado.

A vida arrancou o seu canto, ainda no ovo.

Não há um porquê, sentido ou moral para isto.

“Que utilidade tem um pássaro sem voz?”

Perguntavam os outros pássaros cantantes.

Passarinho mirrado tentava, tentava, mas não cantava.

E foi assim, até o final dos seus dias silenciosos.

Somente a morte, mas tão-somente a morte soou-lhe feliz.