Auto-retrato

Eu tenho a alma torta

e um suave cheiro de tempo

tenho o corpo leve

de quem cavalga sobre o vento

Falo de coisas que não tenho

sinto tudo o que desejo

tenho a mágoa de outros tempos

e escrevo torto em linhas tortas

Eu tenho a vida cheia

e um constante cheiro de chuva

tenho um sentimento breve

de onde tiro a minha música

falo de vidas que não vivi

e de amores que não tive

tenho a mágoa de outros seres

mas não tenho medo de escrever

Eu sou o que sou e não nego

e sou muitos, e sou nada

me exponho constantemente, mas, não me entrego

como o dia, como a noite, como água

Eu, rio denso, profundo e de águas turvas

sinto que já estou bem perto da foz.

Geraldo Meireles
Enviado por Geraldo Meireles em 27/07/2007
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