Auto-retrato
Eu tenho a alma torta
e um suave cheiro de tempo
tenho o corpo leve
de quem cavalga sobre o vento
Falo de coisas que não tenho
sinto tudo o que desejo
tenho a mágoa de outros tempos
e escrevo torto em linhas tortas
Eu tenho a vida cheia
e um constante cheiro de chuva
tenho um sentimento breve
de onde tiro a minha música
falo de vidas que não vivi
e de amores que não tive
tenho a mágoa de outros seres
mas não tenho medo de escrever
Eu sou o que sou e não nego
e sou muitos, e sou nada
me exponho constantemente, mas, não me entrego
como o dia, como a noite, como água
Eu, rio denso, profundo e de águas turvas
sinto que já estou bem perto da foz.