escrevo
escrevo,ora te escrevo
embora estas linhas, creio
não te sirvam, assim penso
desde que,
caminhos separados,
memória daquela tarde
em que juntos
cada um partiu para um lado
sem aceno
nem último desejo
somente mal estar
escrevo, assim te escrevo
estas linhas ,embora,
pareça-me cada vez mais
tango desesperado
chuva em feriado
luto fechado
gato preto estatelado
fudido, atropelado
escrevo, mas a chuva
embora as linhas
não cheguem
a avenida a separar tudo
carros estacionados
trânsito congestionado
ali mais longe
um grande muro
branco caiado
a espera das linhas
que, ora, te escrevo
embora estas linhas
cá comigo penso
sirvam pra quê?
escrevo embora a certeza
teu coração pequeno
cada vez menor o tempo
capaz que um capote pegue bem
ainda que não percebas
escrevo
embora
disco riscado