Chamamento, louvor & Poesia
Estou aquecido
entre
ás paredes
brancas
e implacáveis
do meu apartamento
de segundas
à domingos-infinitos
oferecendo
carícias
e poses
e chás
e tantas
outras doses
à minha solidão.
Estou envelhecido,
branco
e estático
em meio
aos móveis,
passeio
desatento
ás distâncias
entre
o chuveiro
e o gotejar
incessante
das pias de cozinha.
Estou esquecido
das praias
e campos
e montes,
esperando
de longe
que se cumpra
a profecia.
O romper
final
das cinzas
num lance
de tintas
e quimeras
ruidosas
sob minha janela.
Ouço ao longe
uma intensa
melodia,
um sopro
de blues
sobrepondo
os carros velozes
nas noites
mornas
de quinta
à intermináveis
avenidas,
lisas,
enfeitadas
por luzes,
álcool
e (in)cansáveis magias.
Ao longe,
ouço/sinto
o chamado,
orvalho
divino
entre
meus lábios,
entrego-me
solidário
ás cores
(e dores)
soltas
(loucas)
e imensas
do outro
E assim,
a poesia
entrou
em
minha vida.