Uma Certa Madalena
caçoar
humilhar
derrubar
despir
abandonar
usurpar
violar
apedrejar
sulgar
o pouco mel
da despetalada
flor
dos campos ressecados
dos instantes seus
onde os pés seus
largavam-se e despediam-se
do seu viver parco
e rasgava-se o chão.
e procurou
uma estendida humana mão.
quase louca e só
e escolheu
o equivocadoo "eu"
o apressado,
o impensado,
o desprovido.
a mendigar
proteção
um lufar de ar
brisa fresca nas janelas sujas
suas...
da alma lama sua.
e ainda assim
a subjulgação
sabia bem gostar.
lama, alma, lama a minha.
doente e exposta
aos julgamentos alheios
aos escárnios e
já nem inportava-se mais.
cansar é quase desistir
é quase despedir-se
de si por um fio
tênue à escuridão.
luz!
quero luz!
levantou-se ela
humilhada, pranteou
e vestiu-se de si mesma.
das sobras lixo.
de onde já era
loucura
presa nas mandíbulas
dos infernos todos.
luz!
grandiosa é a luz!
levantou-a
abraçou-a
e não havia mais ninguém
à julgá-la à sua volta.
e era ele e eu
numa noite onde só a lua
pôde assistir e sorrir
.. eu nunca mais tinha visto um sorriso ..
e adormece ainda ela
até hoje, criança sua,
flor dos seus campos verdinhos,
no seu amoroso regaço
do sangue vertido e escarnecido
e o corpo seu em pedaços.
e quando ela cai
ele a levanta.
e quando ela chora,
pede a ele para
colocar-lhe no braço.
e o seu abraço e colo
é o único lugar
onde ela pode ser ela mesma
sem histórias apagadas.
com histórias construídas.
e sentir-se ainda tão amada.
o seu abraço e colo
é a sua mais perfeita
paz e morada.
Karla Mello
23 de junho de 2016