Ternura (D)escrita

ó meu Pai

se foste tu quem puseste

esta sofreguidão em meu peito

então acato. oro por mim,

aquieto e calo.

espinho este que nunca tiras.

Grata sou, pequenino grão

fagulha da luz tua

que nunca compreenderá

este teu Amor desmerecido.

este teu Amor descabido e justificado

por mim.

esta tua filha sempre

descabelada-mente

confusa

e que tem mania de amores

e de querer aprender a servir

e abraçar todas as dores.

mas se ainda assim não foste

tu quem quiseste assim em mim:

esta ternura prima da dor

que chora por tudo e ri tola-mente

com todas as alegrias simples

mas que inquieta-me.

e expõe-me ao mundo

a minha alma de pecador, então

arranca-me de mim isto que eu sinto.

isto que eu não sei nem o nome

mas que, todas as noites, com desvelo

busco a ternura em meu peito

- com jeito -

e beijo-a e com tanto respeito

- em flor, broto do grão -

no meu chão ressecado e cansado

e faço-a descansar na brisa leve

com medo que, um dia, ela esfrie

e se vá com o mundo

onde eu sempre tive dificuldade

em caber.

Eu sou uma descabida-mente.

mas é tão leve a ternura e imperceptível em segredo de olor

e vem perfumando os meus dias alegres em ti.

deito-a na palma da minha mão.

e é tão bela a contemplação.

pois se foste tu quem a puseste em mim

eu te prometo, silenciosa, atravessar-me

com o meu olhar, o teu Céu, a contemplar.

mas eu te confesso e ainda te peço:

não me permitas, em mim mesma, tropeçar.

ó meu Pai

se foste tu quem puseste

esta sofreguidão terna e agonizante

neste meu peito com mania de amores,

faz-me lembrar que eu sou tua.

e inspira-me do que queres de mim.

e ainda a ser grata por tudo:

por toda a paz e imutável Amor o teu

que lá na cruz tu me deste.

.. criança tua eu sou ..

Karla Mello

08 de Junho de 2016

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 03/11/2016
Reeditado em 03/11/2016
Código do texto: T5812250
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